Língua Azul

A doença que dizimou rebanhos de ovinos em Portugal, sobretudo no Alentejo!

A febre catarral ovina, conhecida como doença de língua azul tem vindo a afetar vários rebanhos, sobretudo ovelhas e borregos. O número de animais mortos aumentou exponencialmente, falando em prejuízo na ordem dos milhões de euros. Mas, afinal, que doença é esta? Como é transmitida? Há tratamento? Qual a forma de prevenção? É transmitida aos humanos?

 

Etiologia

A língua azul resulta da infecção pelo vírus da língua azul, membro do género Orbivirus e da família Reoviridae. Pelo menos 26 sorotipos foram identificados em todo o mundo. Os vírus da língua azul estão intimamente relacionados com os vírus da Doença Hemorrágica Epizoótica (EHD), sendo esse um fator que pode influenciar para o desenvolvimento e/ou seleção de alguns testes diagnósticos.

 

 

Que serótipo do vírus provocou o surto atual no país?

Em Portugal continental, já foram detetados os serótipos 1, 3 e 4 do vírus que causa a doença da língua azul. O serótipo 4 surgiu pela primeira vez em 2004 e foi novamente detectado em 2013, com os surtos mais recentes confirmados em Dezembro de 2023. O serótipo 1 foi identificado em 2007, com surtos a ocorrem até 2021 (não havendo casos recentes). Já o serótipo tipo 3 foi detetado pela primeira vez no país a 13 de Setembro de 2024, no distrito de Évora. Desde então já se alastrou e é, aliás, o responsável pelo atual surto em território português.

 

Modo de transmissão

É uma doença viral de ruminantes transmitida por mosquitos do género Culicoides. Estes mosquitos voam distâncias curtas de 1-2 km, mas eles podem ser levados para uma distância maior pelo vento. O vírus pode persistir longos prazos se o clima e os vetores forem adequados. Embora não seja comum que o vírus sobreviva a invernos rigorosos, o vírus da língua azul apresentou recentemente a capacidade de sobreviver de um ano para outro na região central e norte da Europa.

 

Espécies afetadas

Os casos clínicos tendem a ocorrer principalmente em ovinos, porém bovinos, caprinos, camelídeos sul-americanos, ruminantes selvagens ou de zoológicos, cervídeos de criação e alguns carnívoros são ocasionalmente afetados. Relativamente à sua transmissão aos humanos, a língua azul não é uma enfermidade zoonótica!

 

Período de incubação e sinais clínicos

O período de incubação é estimado em aproximadamente uma semana, podendo variar de 2-10 dias. Casos clínicos ocorrem principalmente em ovinos, enquanto infeções subclínicas parecem predominar na maioria das outras espécies.

Ovinos

  • Os sinais clínicos comuns incluem febre e depressão; descarga nasal serosa ou mucopurulenta, podendo formar crosta nas narinas; hiperemia do focinho, membranas mucosas orais e nasais, conjuntiva e faixa coronariana dos cascos.
  • O focinho, a região periocular e o rosto muitas vezes se tornam edematosos; em alguns casos, o inchaço também pode envolver a orelha e/ou região submandibular, e ocasionalmente até se estender até as axilas. Os lábios e a língua podem estar muito inchados em alguns animais. A língua fica ocasionalmente cianótica em casos graves.
  • As lesões orais, que muitas vezes incluem erosões e ulcerações, podem resultar em sialorreia, dor durante a alimentação ou anorexia. O envolvimento das bandas coronárias leva à claudicação, com cascos quentes e dolorosos; É possível ainda o desprendimento dos cascos.
  • Algumas ovelhas com língua azul desenvolvem edema pulmonar e morrem rapidamente, com sinais clínicos de dispneia.
  • Ovelhas gestantes podem abortar ou dar à luz a cordeiros nascidos mortos ou com lesões no SNC, lesões de retina e/ou malformações esqueléticas.
  • Algumas ovelhas sobreviventes têm crescimento de lã anormal, ou com perda parcial ou total de lã algumas semanas após a doença, além de os carneiros poderem apresentar sêmen de má qualidade de modo transitório.

 

 

Tratamento

Não há um tratamento específico para a enfermidade, apenas tratamento de suporte.

 

Prevenção

A língua azul é controlada pela vacinação. As vacinas devem ser combinadas com o sorotipo viral desejado. A proteção cruzada entre sorotipos pode ser limitada ou inexistente.

As medidas para reduzir a exposição aos vetores Culicoides podem ser úteis durante os surtos ou em regiões endêmicas, embora seja improvável que sejam eficazes como única medida de controle. Tais medidas podem incluir a prevenção de ambientes onde os mosquitos são mais prevalentes (pastagens úmidas e de baixa altitude), animais estabulados durante a noite e/ou o uso de inseticidas ou repelentes de insetos (redes impregnadas com inseticida em estábulos) para ajudar a proteger grupos de animais.

 

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